O controle da dor nos gatos foi negligenciado por um longo período quando comparado ao tratamento dispensado aos cães. Entretanto, nos últimos anos este perfil se modificou e a avaliação e tratamento da dor nos felinos tem recebido crescente atenção. Ao se considerar que a dificuldade na avaliação da dor nos gatos foi apontada como uma das justificativas para a menor utilização de analgésicos nesta espécie, a disponibilidade de instrumentos de avaliação de dor, especificamente para os felinos, mostrou-se uma necessidade primordial.
Para superar o desafio da identificação e quantificação da dor aguda nos gatos foram direcionados esforços para o desenvolvimento e validação, em múltiplas línguas e culturas, da Escala Multidimensional da UNESP-Botucatu para avaliação de dor pós-operatória em gatos. Este instrumento apresenta um critério numérico indicativo de necessidade de intervenção analgésica, o que enaltece ainda mais o impacto da utilização desta escala, tanto na prática clínica, quanto nos estudos de pesquisa.
A Escala Multidimensional da UNESP-Botucatu para avaliação de dor pós-operatória em gatos apresenta 10 itens: postura, conforto, atividade, atitude, miscelânea de comportamentos, reação à palpação da ferida cirúrgica, reação à palpação do abdome/flanco, pressão arterial, apetite e vocalização. Cada item da escala é constituído por 4 níveis descritivos pontuados em 0, 1, 2 e 3, no qual “0” representa normalidade ou não alteração e “3” a mais pronunciada alteração. Os comportamentos a serem observados em cada nível descritivo estão detalhadamente explicados no instrumento, assim como as diretrizes para a avaliação.
Na sua língua original, o português brasileiro, os itens estão distribuídos em 4 dimensões ou subescalas: 1ª) Alteração Psicomotora, 2ª) Proteção da área dolorosa 3ª) Variáveis fisiológicas e 4ª) Expressão vocal da dor. A estrutura multidimensional do instrumento possibilita que cada aspecto do constructo seja examinado em separado, caso uma avaliação minuciosa seja desejada (estudos de pesquisa). Adicionalmente, permite que na presença de alguma dificuldade técnica para avaliação de determinada subescala, esta possa ser omitida do instrumento.
O escore total da escala, que reflete a avaliação global da intensidade da dor, é calculado a partir do somatório dos escores dos itens e varia de “0” (ausência de dor arbitrária) até 30 pontos (dor máxima). As pontuações obtidas podem ser classificadas em dor leve (0 – 8 pontos), dor moderada (9 – 21 pontos) e dor intensa (22 – 30 pontos). A intervenção analgésica deve, obrigatoriamente, ser instituída em pontuação ≥ 8. Entretanto, não deve ser negado o uso de analgésicos em pontuação < 7, se o julgamento clínico do profissional indicar a necessidade de uso.